terça-feira, 5 de julho de 2011

Beleza Americana

Nada como em um dia frio rever um clássico. Sim, um clássico. Apesar de recente, uma obra-prima do cinema. Nem parece que já se passaram mais de 10 anos desde que o desconhecido filme (na época) ganhou o Oscar. Desconhecido para mim que não o havia assistido antes da premiação. Esperava mais a premiação de A Espera de um Milagre ou mesmo do mais improvável, Sexto Sentido.

Quando finalmente o assisti pela primeira vez, fiquei dividido. O filme era capaz de nos fazer ter diversos sentimentos durante sua exibição, mas não defini ao certo o que seria. Surpresa, inquietação, furor, enfim, o filme provoca tudo isso.

A sinopse já começa provocante e quebrando paradigmas com o Oscar:
Lester Burham (Kevin Spacey) não aguenta mais o emprego e se sente impotente perante sua vida. Casado com Carolyn (Annette Bening) e pai da "aborrecente" Jane (Tora Birch), o melhor momento de seu dia é quando se masturba no chuveiro. Até que conhece Angela Hayes (Mena Suvari), amiga de Jane. Encantado com sua beleza e disposto a dar a volta por cima, Lester pede demissão e começa a reconstruir sua vida, com a ajuda de seu vizinho Ricky (Wes Bentley).

Este é um filme para poucos, ou o adoram ou detestam. Felizmente, me encaixo na primeira parte das opiniões.

Quando alguém me diz que não gosta desse filme, fico em dúvida quanto a opnião da pessoa e sua compreensão do filme, pois existem duas maneiras de o interpretarem: de um modo superficial, e de um do modo correto.
Se você o vê de uma maneira superficial, só vê o enredo simples de Lester, um quarentão tentando reviver a juventude com uma ninfeta, e na sua procura por "libertação" pessoal, exagera e acaba se destruindo.
É como aquela pessoa que andando de carro enxerga somente a estrada a sua frente e deixa de apreciar a bela paisagem ao seu redor. Sentimento semelhante ao provocado pelo filme Sinais, mas aí já é outra discussão que poderemos ter em outra oportunidade.
Por isso, só acredito em alguém que o interpreta tendo a visão correta, aprofundada, afinal, não é um filme pipoca, no estilo desligue o cérebro e se divirta. Pelo contrário, é um filme intimista e provocador que detona com o “estilo de vida americano”; é preciso prestar uma atenção especial nos últimos minutos do filme, quando Lester diz certas coisas que, praticamente, definem todo o conceito do filme. Ai sim, quando alguém diz que não gostou mesmo vendo-o por uma perspectiva mais correta daquilo que o filme passa, aceito e digo "fazer o que, paciência, eu também não gosto muito de comédias, mas adoro dramas bem feitos". Por isso eu dou uma dica, assista novamente.
Oscar de Melhor Fotografia ele garantiu tb

O roteiro é extremamente inteligente, complexo, e ao mesmo tempo, fácil de se absorver, uma vez que nos "encontramos" no dilema do protagonista. Ninguém precisa ser um quarentão cansado para se indentificar com Lester, mas sim, encontrar em si mesmo aquele impulso de mudança, de dar um basta em certas coisas e querer recomeçar alguma coisa. E se consegue visar isso, as últimas falas do filme expõem a alma do protagonista, fáceis, óbvias, poéticas, e se encaixam perfeitamente com o filme. Em sua própria capa está escrito "olhe bem de perto", então faça isso.

E claro, direção impecável do diretor teatral Sam Mendes. Kevin Spacey estava  talvez, em sua melhor performance, e a trilha sonora se encaixa perfeitamente em meio a todo o caminho de Lester. Temos também o ótimo roteiro de Alan Ball, que hoje pode ser conferido em True Blood.
E quem poderá culpá-lo?

Para concluir, uma curiosidade sobre o filme e seu título no original em inglês: American Beauty – é um tipo de rosa muito cultivada nos Estados Unidos, com uma peculiaridade: ela não possui espinhos nem cheiro, uma metáfora sobre o vazio do americano comum. 

Com toda a certeza, uma nota 9.


Um comentário:

  1. Caro amigo,
    este é um dos filmes mais superestimados de todos os tempos, na minha, claro, humilde opinião!
    Assisti quando foi lançado e não achei tudo isto que a opinião geral disse do filme. Acho que Mendes foi muito feliz em esconder uma história comum, com personagens comuns, mascarados de profundidade que eles não tem.
    Agora, eu digo : assista a TEMPESTADE DE GELO e compare com beleza americana. Alias, não compare, pois com certeza a Rosa não vai resistir ao Frio!
    abraço, meu caro.

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