Por volta de 1982 eu tive uma das
melhores sessões de cinema da minha vida. Na verdade, foi “a” sessão de cinema.
A que mudou minha vida e me tornou cinéfilo desde então.
O nosso antigo cinema de
Uruguaiana, Cine Pampa, aos domingos à tarde, nas chamadas matinês, apresentava
sempre duas sessões. Um filme novo e um filme que o cinema possuía em arquivo.
Assim, desta forma pude ver muitos clássicos do cinema em tela grande, mesmo
anos após seu lançamento, como ocorreu com Star Wars (1977), mas isso é uma
outra história.
Quero falar hoje da sessão que me
apresentou A lenda. Não o filme com Tom Cruise pois ele só viria em 1985. Mas
aquele que é até hoje o maior filme de super-heróis de todos os tempos.
Superman – O Filme, de 1978.
Eu ia ao cinema
despretensiosamente, na década de 80 não haviam muitas opções, era ir ao
cinema, jogar bola ou assistir TV em casa. Eu preferia ir ao cinema.
Em 15 de dezembro de 1978, foi
lançado no Brasil Superman – O Filme. A maior aposta da Warner até então. Um
dos filmes mais caros da história na época, que custou absurdos US$ 55.000.000.
Pode parecer pouco hoje em dia, quando se fala em filmes que custam quase 300
milhões de dólares, como o atual, e péssimo, Batman vs Superman. Mas na época
foi um absurdo.
Não por acaso o filme foi rodeado
de problemas, polêmicas, demissões, brigas internas e tantos outros problemas.
Nem mesmo o sucesso estrondoso do filme, que arrecadou mais de US$ 300.000.000,
foi o suficiente para acalmar os ânimos dos produtores, que queriam mandar no
filme a todo instante. Fato que foi um dos maiores problemas do filme e motivo
pela demissão do diretor, Richard Donner, mesmo já tendo gravado praticamente o
filme inteiro e mais da metade da continuação, Superman II, que foram gravados,
em grande parte, simultaneamente. E olhem que Donner não era nenhum novato e
recentemente havia filmado A Profecia, que havia sido um grande sucesso.
É bem verdade que todo o dinheiro
gasto na época, foi muito bem investido, como na contratação de nomes como
Mario Puzzo (o escritor de O Poderoso Chefão) para retocar o roteiro após o
mesmo passar por diversas mãos desde 1973. Marlon Brando para viver Jor-El (o
maior salário da época, cerca de US$ 4.000.000 e mais participação na
arrecadação da bilheteria por 10 minutos no filme), Gene Hackman para ser o
melhor Lex Luthor da história e claro, os efeitos especiais que revolucionaram
o cinema e nos fizeram acreditar que um homem podia voar. Cabe ressaltar que
foram tão bem feitos que a Academia premiou o filme com um Oscar especial, já
que a categoria de efeitos especiais ainda não existia.
A rede de cinemas Cinemark criou
um evento único e exibiu o filme, remasterizado em 4K, no dia 04 de dezembro de
2018, em comemoração aos 40 anos de lançamento do filme. Infelizmente minha
cidade ainda está sem uma sala de cinema e eu tive a oportunidade de, por
motivos de serviço, ir a São Paulo e pensei em ver o filme. Mas infelizmente
cheguei no dia 05 e o filme foi na véspera em exibição única.
Pois ontem a noite fiz uma sessão
especial para mim mesmo, em casa, usando tudo o que tenho direito. Como
assistir ao filme em sua versão estendida com cenas adicionais que haviam sido
cortadas da versão de cinema, mas que foram restauradas quando do seu
lançamento em Blu-ray. Assisti no escuro, com o home theater ligado em bom
volume, para que seu som DTS-HD em 7.2 canais mostrasse toda sua potência.
O filme continua excelente. É
claro que ele já mostra sinais do tempo, mas são 40 anos. Temos de relevar
certas coisas. Mas uma delas ninguém questiona, Cristopher Reeve é o Superman
definitivo. O maior de todos que já interpretaram o herói. Podem citar qualquer
ator, mas ele foi o que melhor o representou, ao ponto de ter tido sua carreira
comprometida por ser sempre ligado ao personagem. Hoje temos Hugh Jackman e Robert
Downey Jr. extremamente ligados aos seus personagens, Wolverine e Homem de
Ferro, respectivamente. Mas o feito alcançado por Reeve foi ainda maior. Era
impossível assistir um filme posterior com ele e não esperar que a qualquer
momento ele abrisse a camisa e revelasse o uniforme do herói. Para comprovar
isso, basta assistir aos episódios aonde ele aparece em Smallville, mesmo após o
acidente que o deixou tetraplégico, a presença dele foi suficiente para tornar
os episódios inesquecíveis e com um peso e presença incomparáveis.
Também é válido de registro as homenagens no filme, como na cena em que o jovem Clark Kent corre pelos campos do Kansas e aposta corrida contra um trem. Na cena que aparece na versão estendida, a pequena jovem que o observa pela janela chama a atenção dos pais e conta o que viu. Aí se revela que os pais da moça são os atores Kirk Alyn e Noel Neil, respectivamente o primeiro Superman e a primeira Lois Lane que estrelaram o seriado original de 1948.
A melhor primeira aparição da história |
O roteiro ainda é excelente,
mostra uma história que não era clichê na época, e se hoje em dia pode ser
considerada como um, deve-se a este filme. Foi muito bem escrito, muito bem
desenvolvido. Apesar de ser uma fantasia, um dos lemas nos sets de filmagem era
“verossimilhança”. E ela foi alcançada. Encontramos no filme, o verdadeiro
Super dos quadrinhos da era de prata.
Margot Kidder nos entrega a
melhor Lois de carne e osso que já vimos. O que lhe falta em beleza, lhe sobra
em carisma e competência. Atriz competentíssima que nos deixou recentemente.
Vale ressaltar como curiosidade de que ela estava praticamente confirmada para
comparecer ao Brasil neste ano durante a CCXP para as comemorações dos 40 anos
do filme e dos 80 anos do personagem. Uma pena mesmo não ter sido possível.
Incrível como tudo funciona no
filme, seja pelo vilão incrível entregue por Hackman, até hoje jamais superado
na filmografia do herói, com seus auxiliares que funcionam como alívio cômico.
Com um esconderijo incrível e muito bem armado, como somente podemos ver nesta
versão estendida, aonde o Super enfrenta suas armadilhas até chegar a
confrontar o vilão.
Os efeitos especiais continuam
nos surpreendendo, principalmente se considerarmos que são de 40 anos atrás.
Por muitos e muitos anos foram referência e elogiados. É claro que hoje em dia
algumas sequências podem ser criticadas e mostrar sua idade. Mas seria covardia
querer comparar com efeitos digitais de hoje em dia. Talvez a principal cena a
ser criticada, seja a do Superman erguendo a costa da Califórnia e reparando a
placa tectônica que a sustenta. Nos quadrinhos da época isso até poderia acontecer,
mas hoje pode ser livremente criticada. Além de algumas sequências de voo que
hoje podem parecer datadas e revelar o croma key.
E como não falar da mais incrível e fantástica trilha sonora de um filme de herói? Mesmo que hoje muita gente chegue a se arrepiar ao ouvir o tema dos Vingadores durante o Guerra Infinita, ou apenas no novo trailer de Vingadores 4, a sensação de ouvir os acordes inesquecíveis de John Williams é o ponto alto do filme. O mesmo mago que criou tantas obras inesquecíveis, como Star Wars, Indiana Jones, Tubarão e tantas outras. Mas esta aqui é de arrepiar e nos fazer querer levantar da cadeira. É algo que os filmes mais recentes perderam e poderiam utilizar. Ela com certeza tem uma grande porcentagem no sucesso do filme. Some a trilha e imagine a cena da revelação do Super no filme salvando a Lois Lane e o helicóptero da queda nos céus de Metrópolis, com todo o povo aplaudindo e vibrando na cena e tenho certeza de lembrar do cinema vindo abaixo em aplausos e assobios na época.
A única coisa que pode ser criticada na história do filme, seria o seu desfecho, com o Superman fazendo a terra rodar ao contrário para retroceder o tempo. Mas devemos lembrar que em 1978, no período pré-Crise nas Infinitas Terras, o azulão possuía este poder. Muitas histórias em quadrinhos da época o mostram voando em alta velocidade para viajar no tempo. Porém entendo que esta foi a melhor forma de mostrar isso nas telas, na época.
A única coisa que pode ser criticada na história do filme, seria o seu desfecho, com o Superman fazendo a terra rodar ao contrário para retroceder o tempo. Mas devemos lembrar que em 1978, no período pré-Crise nas Infinitas Terras, o azulão possuía este poder. Muitas histórias em quadrinhos da época o mostram voando em alta velocidade para viajar no tempo. Porém entendo que esta foi a melhor forma de mostrar isso nas telas, na época.
Uma pena a demissão do diretor
antes de finalizar a sequência, pois hoje podemos saber como teria sido. Na
caixa em Blu-ray além desta versão estendida, há uma versão especial do segundo
filme, chamada de Director’s Cut, que mostra a visão que Donner possuía para o
filme e utiliza muitas cenas que foram gravadas e não aproveitadas na época
numa montagem especial do filme. Ele seria muito melhor do que foi a
continuação.
Poderia falar de diversos temas, como o tom messiânico do filme e do herói, ou ainda relacionar com a homenagem que foi o filme Superman O Retorno, mas hoje eu quero apenas me deleitar com as imagens e memórias do filme que revi ontem.
Enfim, para todos que hoje curtem
filmes de heróis, sejam da Marvel, DC ou de alguma outra editora, devem
redescobrir este filme. Incrível e fantástico são apenas algumas das palavras
que servem para defini-lo. Nota 10!
Eu saí daquela sessão de cinema
correndo e esticando os braços, como se voasse. O garoto de 8 anos que saiu do
cinema, até hoje é fã do Superman, aprendeu a ler quadrinhos e se tornou
cinéfilo. Tudo porque passei a acreditar que um homem poderia voar graças a
esta obra-prima. Em 2012, logo após sair da sessão do filme Os Vingadores,
cheguei a falar que finalmente um filme havia superado Superman e mereceria a
alcunha de Melhor Filme baseado em quadrinhos de todos os tempos. Mas esqueçam.
Foi a empolgação do momento. Vingadores é sim, um dos melhores do gênero, mas
este, é incomparável.
Obs. Vai um agradecimento
especial ao meu tio Paulo Ricardo, que foi quem me levou a uma sessão para
assistir a Superman II logo depois desta matinê. Era uma sessão noturna,
legendada em que o fiz ler todas as legendas para mim. Um forte abraço Neco.
Para o alto e avante! |