Nada como estar em casa, de férias, após um passeio com a
família e com tempo para começar a por em dia a lista de filmes que tenho para
ver. Com a bendita ajuda da mid-season (o intervalo das séries nos EUA), a
tarefa fica um pouco mais fácil.
Na tarde de ontem assisti a este filme que foi surgindo
quase como um desconhecido, sem muito alarde, mas que se revelou uma grata
surpresa.
Sinopse:
A trama se passa em 2044 e acompanha Joe (Joseph
Gordon-Levitt), que tem por tarefa eliminar os condenados da máfia
enviados do futuro. Ele é um looper, muito bem pago pelo serviço, mas
também com um preço a pagar: pode viver por 30 anos, após este período será
caçado pela máfia e enviado ao passado para ser morto por sua versão mais nova
– este é o loop, ou fim de ciclo, para cada um dos assassinos. Só que a
versão mais velha de Joe (Bruce Willis) se recusa a aceitar a morte
passivamente e consegue escapar ao retornar ao passado. É o início de uma
perseguição insólita, onde o Joe do presente (Gordon-Levitt) deseja matar o do
futuro (Willis) para garantir seu futuro, enquanto que o do futuro não pode
eliminar o do presente, já que isto acabaria com ele próprio, mas precisa agir
para evitar que, no futuro, seja capturado e enviado ao passado. Confuso? É
assim mesmo.
Apesar de meio confuso, o filme não se dispõe a ser didático
a este respeito, o que acaba sendo uma vantagem, já que muitos filmes se perdem
quando entram nestas questões científicas e tentam adaptá-las para a sua
finalidade. Aqui a ordem é: aceite as sugestões e curta o filme. O que acaba
funcionando muito bem e nos impede de tentar decifrar paradoxos temporais.
A primeira hora de filme é digna de um belo filme de ação.
Ágil, eletrizante, com sequências ótimas de perseguição, e com uma trama
realmente interessante de se acompanhar. Além da criativa sacada de vermos a
mesma pessoa se observando no passado, que garante uma das melhores sequências
do filme.
Porém, a partir do momento que a personagem de Emily Blunt
surge na história, é como se outro filme tivesse começado. Um filme lento, com
um foco muito maior nos conflitos psicológicos dos personagens, contrastando de
forma até radical com o início.
É claro que uma mudança de ritmo, e até de estilo dentro do
mesmo filme não é necessariamente algo problemático. Porém, aqui é quase que
natural sentir uma espécie de frustração pela mudança radical em uma história
que estava dando muito certo.
Mas vamos com calma. Não quero dizer que esse momento é
ruim, apenas é menos interessante do que a história que acompanhamos no início.
Depois disso, surge o terceiro ato do filme, que
definitivamente consegue ser ainda mais diferente do que as outras partes.
Surge uma questão meio que sobrenatural, que é falada de forma superficial na
primeira parte, mas que domina completamente a história, e dita o que veremos
dali em diante.
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Eu sou você, amanhã! |
Aviso: “Alguns spoilers no parágrafo abaixo...”
Acredito que o problema desse momento é que vimos uma
história que tinha os pés na realidade (apesar das viagens no tempo, que é um
elemento que assumimos para compreender a história), e de repente surge algo
que parece uma grande forçada de barra. Fica muito difícil não ver as questões
sobrenaturais do garoto como falhas grotescas de roteiro, sendo utilizadas como
muletas para poder explicar certas coisas que seriam difíceis do público
compreender. Além disso, creio que a direção de Rian Johnson (que também
escreveu o roteiro) em cima do menino foi equivocada. Ele pode parecer tudo,
menos uma criança. Parece que a personalidade pensada para ele foi feita para
chocar, ou coisa parecida. Mas a única coisa que fica é uma atuação bem
exagerada, que chega a ser risível em alguns momentos, como quando ele mata o
homem que se passava por policial, ou no momento em que os dois Joes, Sara e
ele estão no campo, no final do filme, em momentos que nos fazem lembrar o
filme de Brian de Palma, Carrie –
A Estranha (1976). Fim dos spoilers.
O trio principal do filme apresenta um bom trabalho, com
destaque para o inconsequente Joe de Joseph Gordon-Levitt, que carrega o filme
com tranquilidade em sua primeira parte, e mostra que o ator já pode ser
considerado um dos grandes nomes da atual Hollywood. Sua caracterização como
Bruce Willis é fantástica e em muitos momentos percebemos as manias e trejeitos
de um no outro. Algo realmente de uma qualidade muito boa. Claro que a
maquiagem ajuda, mas as caras e bocas que ela faz são puro Bruce Willis. Merece
parabéns pela atuação.
Confesso que quando o filme chegou ao fim, não sabia dizer
se gostei ou não do que acabara de ver, pois pelo menos comigo, me pareceu um
filme que tem um começo memorável e um final que… divide opiniões. Mas Looper é indiscutivelmente um
trabalho que merece ser visto, e que com certeza causará opiniões diversas.
E isso não é uma das melhores coisas que a arte pode
proporcionar?
Nota 8,5.
Release
baixado: Looper.2012.720p.bluray.x264-sparks