Há 10 anos atrás eu tive uma das melhores sessões de cinema
da minha vida. O filme era O Homem Aranha, dirigido por Sam Raimi e que pela
primeira vez trouxe o aracnídeo para as telas. O filme não era perfeito, haviam
falhas, mas era muito bom. Fosse pelo sentimento de nostalgia, fosse pela
dificuldade de ser levado às telas, pelas filas enormes, a compra antecipada de ingressos, os vários amigos presentes na seção, para mim o filme foi marcante e
inesquecível.
10 anos depois temos um novo filme na praça, que tenta
apagar tudo o que vivenciamos em 3 filmes anteriores e recomeçar a franquia do
cabeça de teia no cinema a partir do zero. Apenas 5 anos após o último filme,
era mesmo necessário fazer isso ao invés de continuar a sequência? Vamos tentar
avaliar.
Sinopse:
Peter Parker (Andrew Garfield) é um rapaz tímido e
estudioso, que inicou há pouco tempo um namoro com a bela Gwen Stacy (Emma
Stone), sua colega de colégio. Ele vive com os tios, May (Sally Field) e Ben
(Martin Sheen), desde que foi deixado pelos pais, Richard (Campbell Scott) e
Mary (Embeth Davidtz). Certo dia, o jovem encontra uma misteriosa maleta que
pertenceu a seu pai. O artefato faz com que visite o laboratório do dr. Curt
Connors (Rhys Ifans) na Oscorp. Parker está em busca de respostas sobre o que
aconteceu com os pais, só que acaba entrando em rota de colisão com o perigoso
alter-ego de Connors, o vilão Lagarto.
Cheio de restrições ao filme, estando em férias acabei indo, bem acompanhado da família é claro, a uma sala da rede GNC em um Shpping Center. Sala muito boa, nem sequer tem
como comparar com a nossa humilde sala local. Lá tínhamos cadeiras muito
confortáveis, ótima tela, projeção no aspecto correto e o som. E que som, DTS e
em 5.1 canais perfeitamente audíveis e muito bem regulado. Simplesmente
obrigatório.
O filme resgata uma história antiga dos quadrinhos, sobre o
mistério dos pais de Peter Parker e mescla com a versão ultimate do personagem,
que nada mais é do que uma atualização da lenda para os dias atuais. Afinal, o
Aranha foi criado em 1962 e muita coisa que era verossímel na época, hoje não é
mais. Todavia, o filme inicial da franquia dirigida por Sam Raimi já fazia
isso. De maneira sutil, mas atualizava a história sim.
Agora temos um arco misterioso dos pais de Peter que nem
mesmo nos quadrinhos foi bem recebido e que pouco depois de ser publicado foi
esquecido. Nem mesmo histórias posteriores sequer mencionavam estes arcos. Some
a isso a diminuição que o tio Ben sofre na vida de Peter por causa da sombra
dos pais e a sua morte torna-se muito menos dramática e impactante quanto foi no
primeiro filme. Afinal, se Peter ainda tem uma esperança de encontrar seus
pais, a perda do tio acaba não sendo algo assim tão doloroso capaz de criar
nele uma mudança de atitude. A sua mudança de foco aqui, se deve a uma outra
cena com uma carga dramática muito menor e bem menos compreensível.
Quem você pensa que é para falar mal do meu filme? |
Tirando esta escolha estranha para o roteiro, o filme até
que não é ruim. Pelo contrário, tem muitos pontos positivos e o visual e
efeitos especiais estão simplesmente espetaculares. Todos os defeitos e
falsidade aparente dos efeitos no longa de 2002 foram deixados para trás, aqui
as cenas são limpas e bem conduzidas, efeitos incríveis e um visual
estonteante. O filme é um deleite para quem assiste. E cuidado para não sentir
náuseas em algumas cenas em que a câmera acompanha nosso herói pelos prédios de
Nova Iorque.
Por mais que eu tente não comparar o novo filme com o
anterior, quando se fala em origem e descobrimento de poderes não há como não
compará-los, e aqui, o novo filme sai perdendo sempre. Não apenas o roteiro é
muito mais superficial, como as situações postas no filme são muito infantis.
Quem sabe até agrade mais ao público adolescente da atualidade, mas me
desculpem, eu preciso de mais substância num filme deste tipo. Não aceito ser
enganado ao não ter um único motivo sequer para que em determinado momento do
filme Peter resolva contar seu segredo para alguém. Assim, do nada. Não engoli.
Tudo bem que no filme de 2002 o inimigo Duende Verde estava
totalmente descaracterizado daquele dos quadrinhos, muitas vezes parecendo sair
de um Jaspion da vida. Mas Willian Dafoe compensava qualquer problema visual.
Cronologicamente falando, Gwen Stacy também foi um acerto no lugar de Mary Jane,
o primeiro filme mescla as duas em uma única (esta percepção é somente para
leitores), mas o resultado se não é perfeito, é bastante satisfatório. Apesar
do acerto neste novo filme, o resultado não é melhor que o anterior, ainda com
algumas gafes.
Para sintetizar o filme, a sequência final, a cena que
normalmente é feita para levantar a plateia das poltronas naquele sentimento de
aventura acima de qualquer outro visto no decorrer do filme não funciona. Pior
que não funcionar é a decepção que causa. Quem assistir ao filme talvez fique
constrangido ao ver a tal cena da sequência final. Não convence em nenhum
momento e não é por causa dos efeitos especiais não, que são a melhor coisa no
filme. Assista e depois julgue se não tenho razão.
Mas a gota d’água pra mim é que não há, pasmem, em momento
algum do filme a citação “Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”.
Isso é um crime. É algo impensável. Em qualquer outro filme deixar uma fala ou
um pensamento conhecido de fora da montagem é até aceitável, mas em Homem
Aranha não. Isso é a essência de quem ele é. É esta frase que o move e quem o
torna o que ele é. É como se ao filmar a nova trilogia de Star Wars, George
Lucas não incluísse a fala “Que a Força esteja com você” em nenhum dos filmes,
ou como se o Spock não se despedisse dizendo “Vida longa e próspera” no novo Star Trek. É algo
inaceitável.
Mas não se deixe levar apenas pelas minhas reclamações de
fã. O filme tem virtudes e as interpretações do Peter, de Gwen Stacy e do
Lagarto são muito boas. Eles entregam sentimento aos personagens e em muitos
momentos superam aquilo que esperávamos ou nos baseávamos no filme anterior.
Minha revolta ao falar mais dos defeitos do filme em comparação ao anterior do
que exaltar suas qualidades se deve, em parte, por ainda estar com o filme dos
Vingadores em mente e esperar algo de qualidade semelhante, o que acabou não
acontecendo.
Ao final das contas a Sony (estúdio detentora dos direitos)
poderia ter aguardado por uma história melhor antes de fazer o filme. Acertou
na escolha do diretor e dos atores, mas pecou na escolha do roteiro. Mas o que
os move é o dinheiro. A Marvel Comics, antes de possuir um estúdio próprio,
vendeu os direitos de adaptação de certos personagens para outros estúdios.
Homem Aranha pertence a Sony, Quarteto Fantástico e X-Men pertencem a Fox e
mais um ou outro personagem está nesta situação. Entre as cláusulas do contrato
de cessão dos direitos há uma que versa que após um determinado tempo sem novos
filmes dos personagens e os direitos retornariam para as mãos da Marvel. Logo
ao saber deste detalhe, entendemos o porque do filme ter sido feito mesmo sem
possuir a história ideal para fazer um filme nota 10.
Foi bom, mas bem que já poderia estar o novo do Batman em cartaz... |
O filme não apagará o anterior de nossas lembranças, muito longe disso, porém merece levar uma nota 7,5.