sábado, 15 de dezembro de 2018

40 (80) anos de uma lenda


 De tempos em tempos, eu reapareço por aqui. Em tempos de mídias sociais, lives e youtubers, a procura por um blog para ler sobre algum assunto caiu muito. Então não me sinto culpado por praticamente desaparecer daqui.
 
Blu-ray com imagem restaurada
Por volta de 1982 eu tive uma das melhores sessões de cinema da minha vida. Na verdade, foi “a” sessão de cinema. A que mudou minha vida e me tornou cinéfilo desde então.

O nosso antigo cinema de Uruguaiana, Cine Pampa, aos domingos à tarde, nas chamadas matinês, apresentava sempre duas sessões. Um filme novo e um filme que o cinema possuía em arquivo. Assim, desta forma pude ver muitos clássicos do cinema em tela grande, mesmo anos após seu lançamento, como ocorreu com Star Wars (1977), mas isso é uma outra história.

Quero falar hoje da sessão que me apresentou A lenda. Não o filme com Tom Cruise pois ele só viria em 1985. Mas aquele que é até hoje o maior filme de super-heróis de todos os tempos. Superman – O Filme, de 1978.
 
Edição especial em Blu-Ray
Eu ia ao cinema despretensiosamente, na década de 80 não haviam muitas opções, era ir ao cinema, jogar bola ou assistir TV em casa. Eu preferia ir ao cinema.

Em 15 de dezembro de 1978, foi lançado no Brasil Superman – O Filme. A maior aposta da Warner até então. Um dos filmes mais caros da história na época, que custou absurdos US$ 55.000.000. Pode parecer pouco hoje em dia, quando se fala em filmes que custam quase 300 milhões de dólares, como o atual, e péssimo, Batman vs Superman. Mas na época foi um absurdo.
 
O Super Bebê
Não por acaso o filme foi rodeado de problemas, polêmicas, demissões, brigas internas e tantos outros problemas. Nem mesmo o sucesso estrondoso do filme, que arrecadou mais de US$ 300.000.000, foi o suficiente para acalmar os ânimos dos produtores, que queriam mandar no filme a todo instante. Fato que foi um dos maiores problemas do filme e motivo pela demissão do diretor, Richard Donner, mesmo já tendo gravado praticamente o filme inteiro e mais da metade da continuação, Superman II, que foram gravados, em grande parte, simultaneamente. E olhem que Donner não era nenhum novato e recentemente havia filmado A Profecia, que havia sido um grande sucesso.
 
Os melhores Clark e Lois
É bem verdade que todo o dinheiro gasto na época, foi muito bem investido, como na contratação de nomes como Mario Puzzo (o escritor de O Poderoso Chefão) para retocar o roteiro após o mesmo passar por diversas mãos desde 1973. Marlon Brando para viver Jor-El (o maior salário da época, cerca de US$ 4.000.000 e mais participação na arrecadação da bilheteria por 10 minutos no filme), Gene Hackman para ser o melhor Lex Luthor da história e claro, os efeitos especiais que revolucionaram o cinema e nos fizeram acreditar que um homem podia voar. Cabe ressaltar que foram tão bem feitos que a Academia premiou o filme com um Oscar especial, já que a categoria de efeitos especiais ainda não existia.

A rede de cinemas Cinemark criou um evento único e exibiu o filme, remasterizado em 4K, no dia 04 de dezembro de 2018, em comemoração aos 40 anos de lançamento do filme. Infelizmente minha cidade ainda está sem uma sala de cinema e eu tive a oportunidade de, por motivos de serviço, ir a São Paulo e pensei em ver o filme. Mas infelizmente cheguei no dia 05 e o filme foi na véspera em exibição única.
 
Brincadeira com um velho clichê
Pois ontem a noite fiz uma sessão especial para mim mesmo, em casa, usando tudo o que tenho direito. Como assistir ao filme em sua versão estendida com cenas adicionais que haviam sido cortadas da versão de cinema, mas que foram restauradas quando do seu lançamento em Blu-ray. Assisti no escuro, com o home theater ligado em bom volume, para que seu som DTS-HD em 7.2 canais mostrasse toda sua potência.

O filme continua excelente. É claro que ele já mostra sinais do tempo, mas são 40 anos. Temos de relevar certas coisas. Mas uma delas ninguém questiona, Cristopher Reeve é o Superman definitivo. O maior de todos que já interpretaram o herói. Podem citar qualquer ator, mas ele foi o que melhor o representou, ao ponto de ter tido sua carreira comprometida por ser sempre ligado ao personagem. Hoje temos Hugh Jackman e Robert Downey Jr. extremamente ligados aos seus personagens, Wolverine e Homem de Ferro, respectivamente. Mas o feito alcançado por Reeve foi ainda maior. Era impossível assistir um filme posterior com ele e não esperar que a qualquer momento ele abrisse a camisa e revelasse o uniforme do herói. Para comprovar isso, basta assistir aos episódios aonde ele aparece em Smallville, mesmo após o acidente que o deixou tetraplégico, a presença dele foi suficiente para tornar os episódios inesquecíveis e com um peso e presença incomparáveis.


"Você me salvou! E quem salva você?"

Também é válido de registro as homenagens no filme, como na cena em que o jovem Clark Kent corre pelos campos do Kansas e aposta corrida contra um trem. Na cena que aparece na versão estendida, a pequena jovem que o observa pela janela chama a atenção dos pais e conta o que viu. Aí se revela que os pais da moça são os atores Kirk Alyn e Noel Neil, respectivamente o primeiro Superman e a primeira Lois Lane que estrelaram o seriado original de 1948.

A melhor primeira aparição da história

O roteiro ainda é excelente, mostra uma história que não era clichê na época, e se hoje em dia pode ser considerada como um, deve-se a este filme. Foi muito bem escrito, muito bem desenvolvido. Apesar de ser uma fantasia, um dos lemas nos sets de filmagem era “verossimilhança”. E ela foi alcançada. Encontramos no filme, o verdadeiro Super dos quadrinhos da era de prata.

Margot Kidder nos entrega a melhor Lois de carne e osso que já vimos. O que lhe falta em beleza, lhe sobra em carisma e competência. Atriz competentíssima que nos deixou recentemente. Vale ressaltar como curiosidade de que ela estava praticamente confirmada para comparecer ao Brasil neste ano durante a CCXP para as comemorações dos 40 anos do filme e dos 80 anos do personagem. Uma pena mesmo não ter sido possível.
 
Ele sempre será "Um amigo."
Incrível como tudo funciona no filme, seja pelo vilão incrível entregue por Hackman, até hoje jamais superado na filmografia do herói, com seus auxiliares que funcionam como alívio cômico. Com um esconderijo incrível e muito bem armado, como somente podemos ver nesta versão estendida, aonde o Super enfrenta suas armadilhas até chegar a confrontar o vilão.

Os efeitos especiais continuam nos surpreendendo, principalmente se considerarmos que são de 40 anos atrás. Por muitos e muitos anos foram referência e elogiados. É claro que hoje em dia algumas sequências podem ser criticadas e mostrar sua idade. Mas seria covardia querer comparar com efeitos digitais de hoje em dia. Talvez a principal cena a ser criticada, seja a do Superman erguendo a costa da Califórnia e reparando a placa tectônica que a sustenta. Nos quadrinhos da época isso até poderia acontecer, mas hoje pode ser livremente criticada. Além de algumas sequências de voo que hoje podem parecer datadas e revelar o croma key.
 
Descendo
E como não falar da mais incrível e fantástica trilha sonora de um filme de herói? Mesmo que hoje muita gente chegue a se arrepiar ao ouvir o tema dos Vingadores durante o Guerra Infinita, ou apenas no novo trailer de Vingadores 4, a sensação de ouvir os acordes inesquecíveis de John Williams é o ponto alto do filme. O mesmo mago que criou tantas obras inesquecíveis, como Star Wars, Indiana Jones, Tubarão e tantas outras. Mas esta aqui é de arrepiar e nos fazer querer levantar da cadeira. É algo que os filmes mais recentes perderam e poderiam utilizar. Ela com certeza tem uma grande porcentagem no sucesso do filme. Some a trilha e imagine a cena da revelação do Super no filme salvando a Lois Lane e o helicóptero da queda nos céus de Metrópolis, com todo o povo aplaudindo e vibrando na cena e tenho certeza de lembrar do cinema vindo abaixo em aplausos e assobios na época.


A única coisa que pode ser criticada na história do filme, seria o seu desfecho, com o Superman fazendo a terra rodar ao contrário para retroceder o tempo. Mas devemos lembrar que em 1978, no período pré-Crise nas Infinitas Terras, o azulão possuía este poder. Muitas histórias em quadrinhos da época o mostram voando em alta velocidade para viajar no tempo. Porém entendo que esta foi a melhor forma de mostrar isso nas telas, na época.
 
Mais uma referência...
Uma pena a demissão do diretor antes de finalizar a sequência, pois hoje podemos saber como teria sido. Na caixa em Blu-ray além desta versão estendida, há uma versão especial do segundo filme, chamada de Director’s Cut, que mostra a visão que Donner possuía para o filme e utiliza muitas cenas que foram gravadas e não aproveitadas na época numa montagem especial do filme. Ele seria muito melhor do que foi a continuação.
 
Cenas extras da invasão ao covil de Lex Luthor
Poderia falar de diversos temas, como o tom messiânico do filme e do herói, ou ainda relacionar com a homenagem que foi o filme Superman O Retorno, mas hoje eu quero apenas me deleitar com as imagens e memórias do filme que revi ontem.


Enfim, para todos que hoje curtem filmes de heróis, sejam da Marvel, DC ou de alguma outra editora, devem redescobrir este filme. Incrível e fantástico são apenas algumas das palavras que servem para defini-lo. Nota 10!
 
Inesquecível


Eu saí daquela sessão de cinema correndo e esticando os braços, como se voasse. O garoto de 8 anos que saiu do cinema, até hoje é fã do Superman, aprendeu a ler quadrinhos e se tornou cinéfilo. Tudo porque passei a acreditar que um homem poderia voar graças a esta obra-prima. Em 2012, logo após sair da sessão do filme Os Vingadores, cheguei a falar que finalmente um filme havia superado Superman e mereceria a alcunha de Melhor Filme baseado em quadrinhos de todos os tempos. Mas esqueçam. Foi a empolgação do momento. Vingadores é sim, um dos melhores do gênero, mas este, é incomparável.
 
Perseguição ao míssil que mudaria o filme II.


Obs. Vai um agradecimento especial ao meu tio Paulo Ricardo, que foi quem me levou a uma sessão para assistir a Superman II logo depois desta matinê. Era uma sessão noturna, legendada em que o fiz ler todas as legendas para mim. Um forte abraço Neco.

Para o alto e avante!