terça-feira, 5 de março de 2013

O Hobbit


Desde 2003 estávamos órfãos. Pois quando Peter Jackson concluiu a filmagem da Trilogia do Anel perdemos nossa passagem anual para a Terra-Média. A esperança era efêmera, pois os direitos de produção e distribuição de O Hobbit (para quem não sabe é o livro que narra, entre outras aventuras, a forma como Bilbo encontra o Anel) estavam divididos entre dois estúdios que não se acertavam. A cada reunião ficavam mais distantes de um acerto sobre como dividirem os louros, e os dólares principalmente, que com certeza o filme renderia. Além disso, nada nos dava a certeza de que seria tratado com o mesmo respeito e seriedade com que a trilogia foi. Nem mesmo tínhamos a informação se Peter Jackson, o grande responsável pela adaptação da trilogia estaria envolvido. E isso, com certeza, era muito importante.

Porém após alguns anos, algumas falências (MGM) e muitas reuniões, as coisas começaram a se endireitar e entrar nos eixos a partir do momento em que houve o acerto entre os estúdios. Ficou decidido que Peter Jackson estaria envolvido, como produtor e a direção foi dada a outro nome de peso, Guilhermo del Toro (excelente escolha). Porém devido a novos atrasos e exigências dos estúdios, Peter Jackson foi alçado á cadeira de diretor do novo filme, e o resto, é história.

Atenção, aviso a todos que no texto abaixo contém vários spoilers sobre o filme.

Sinopse:
A aventura conta a trajetória do personagem-título Bilbo Bolseiro, que enfrenta uma jornada épica para retomar o Reino de Erebor, terra dos anões que foi conquistada há muito tempo pelo dragão Smaug. Levado à empreitada pelo mago Gandalf, o Cinza, Bilbo encontra-se junto a um grupo de treze anões liderados pelo lendário guerreiro Thorin Escudo-de-Carvalho. Essa aventura irá leva-los a lugares selvagens, passando por terras traiçoeiras repletas de Goblins e Orcs, Wargs mortais e Aranhas Gigantes, Transmorfos e Magos. Embora o objetivo aponte para o Leste e ao árido da Montanha Solitária, eles devem escapar primeiro dos túneis dos goblins, onde Bilbo encontra a criatura que vai mudar sua vida para sempre... Gollum. A sós com Gollum, nas margens de um lago subterrâneo, o despretensioso Bilbo Bolseiro não só descobre sua profunda astúcia e coragem, que surpreende até mesmo a ele, mas também ganha a posse do "precioso" anel de Gollum, que possui qualidades inesperadas e úteis... Um simples anel de ouro que está ligado ao destino de toda a Terra-Média, de uma maneira que Bibo nem pode imaginar.


Eu sempre soube que assistiria este filme. Não importavam as notícias ou críticas que pudessem chegar antes de ter a oportunidade de assisti-lo. Mas logo que o primeiro trailer foi lançado, isso foi confirmado de uma forma soberba. O trailer é fantástico, mas a cena dos anões cantando a música da Montanha Solitária foi algo insuperável e que me fisgou definitivamente. É de arrepiar. O trailer foi visto por mim cerca de uma centena de vezes. Começava ali a ansiedade por vê-lo.

O filme, propriamente dito, chegou as minhas mãos em meados de janeiro, pois “vazou” na internet uma versão DVD Screener que havia sido distribuída para algum votante no Oscar que o “perdeu”. Porém eu me recusei a assistir sem que a qualidade de som e imagem fosse em alta definição. Sábia decisão.

Na virada de fevereiro para março, eis que vaza na grande rede a versão em alta definição do filme. Com imagem impecável e som DTS daqueles de tremer toda a casa. Essa é a forma de assistir a um filme que gerou tanta expectativa.

Para começo de conversa eu nunca consegui ler o livro inteiro. Li boa parte dele muito tempo atrás, mas li a versão em quadrinhos do livro. Não sou profundo conhecedor desta obra, ao contrário de O Senhor dos Anéis que li todos os livros diversas vezes. Mas acredito que possa ter algum embasamento ao postar minhas opiniões.

A escolha dos atores, no caso os anões, e os efeitos especiais utilizados para demonstrar os mesmos é irrepreensível. Nos convencem desde o momento em que surgem na tela. E Erebor e a cidade do Valle estão belíssimas. Aparentam tudo aquilo que é descrito no livro. Muito bem construídas e demonstradas a nós de uma forma que parecem existirem de verdade, algum canto esquecido da Nova Zelândia. O reino dos anões é demonstrado com toda sua grandeza e riqueza. Ponto para Peter Jackson.

Mas nada se compara à sábia decisão de não mostrar Smaug por inteiro no primeiro filme. Sugerir funcionou muito melhor do que revelar. A grande sacada da pandorga (pipa) em forma de dragão me surpreendeu e tenho certeza de que foi uma grata surpresa a todos. Ela por si só, explica os acontecimentos a seguir e o drama que a segue nos toca de uma maneira profunda.

Logo em seguida, nostalgia muito bem vinda. Elija Wood, o nosso eterno Frodo dá as caras e nos lembra que estamos no Condado. Como o trailer não esconde, o filme será narrado por Bilbo que está escrevendo o Livro Vermelho. A chegada de Gandalf e os diálogos saídos diretamente do livro para as telas trazem confiança e humor. A sequência do bom-dia é um sinal de Peter Jackson está por trás das câmeras. Outro belo acerto.
Thorin Escudo de Carvalho

A chegada dos anões, a recepção deles por Bilbo, as cantorias e a sequência da lavagem da louça são incríveis. Neste ponto, o filme já valeu a pena. Claro que nem tudo é perfeito e logo na sequência nos é contada a história do Thorin Escudo de Carvalho e é inserido o vilão que nos cercará por todo o filme. Ele foi extraído dos apêndices dos livros, mas resgatado por Peter Jackson para ser o contraponto da história e dar uma motivação maior aos Orcs e anões. Apesar de muitos fãs do livro reclamarem dele, cinematograficamente falando ele cumpre seu papel. Não digo com isso que tudo foi perfeito, mas é bastante aceitável.

A sequência dos Trolls foi irrepreensível. Um pouco alterada em relação ao livro, mas isso já era esperado. Manteve o respeito pela forma como os Trolls foram mostrados na trilogia anterior e ainda permitiu uma dose de humor. E Valfenda? Ela é a mesma de O Senhor dos Anéis e é majestosa. Se já funcionou antes, por que não haveria de não funcionar agora? O Conselho Branco também foi um ponto positivo no filme. Apesar de algumas alterações, foi plenamente aprovado. Rever Elrond, Galadriel e Saruman vale sempre a pena.

Todavia o ápice do filme foram duas sequências muito esperadas. Charadas no Escuro e a Chegada das Águias. Essas duas sequências não decepcionam nenhum fã. Gollum foi inicialmente apresentado de forma a dar medo. Mostrado como um predador no seu território foi excelente. As charadas foram transpostas de uma maneira que nos faz adorar assistir ao filme conhecer algumas delas. Poucas ficaram de fora. Novamente arrepiante é a palavra mais certa a ser utilizada.

Na verdade teve apenas dois pontos na narrativa que senti que destoaram do restante do filme e não me agradaram. A maneira como foi caracterizado o mago Radagast (apesar de ter um papel relevante) e a maneira como ele foi apresentado, apesar de estar visualmente bem caracterizado, ele aparenta muito mais ser um lunático do que um mago preocupado com a natureza (e nem vou comentar aqui seu meio de locomoção), e os gigantes de pedra que sempre aparentaram (para mim) serem mencionados no sentido figurado e nunca de maneira literal. Tornaram-se inverossímeis demais.  Foram as partes mais “fracas” do filme e deixaram uma sensação de que não fariam falta, ou ainda, que poderiam ter sido melhor desenvolvidos para serem apresentados de forma bastante diferente.

Outra coisa que me incomodou foi a longa duração do filme (169 minutos). Um corte de cerca de 20 minutos seria bem vindo. Mesmo que todas as cenas sejam bem desenvolvidas e tenham um motivo de ser, ele por vezes cansa e parece arrastado. Aqui Peter Jackson errou a mão, e ainda dizem que haverá uma versão estendida (ou seria e$$$tendida?).
Os anões em sua jornada pela terra dos Orcs

Se considerar que os 3 filmes que comporão a nova trilogia são extraídos de um único livro, diferente da Trilogia do Anel em que eram 3 livros. Podemos esperar que os próximos filmes também sofram um pouco da falta de ritmo. Porém eu prefiro acreditar que Peter Jackson só irá fazer a escala crescer e melhorar a narrativa e o interesse a cada novo filme.

Claro que o saldo final é positivo. É lógico que a trilha sonora é soberba e aproveita muita coisa da trilogia anterior. Fica claro a necessidade que o filme sente em unir as duas trilogias. Com certeza nos próximos dois filmes deveremos esperar muito mais histórias pinçadas dos apêndices dos livros e cada vez mais coincidências unindo os filmes e mostrando que o livro escrito em 1937, incialmente como uma simples história a ser contada por um pai aos seus filhos, é uma fonte inesgotável de dólares. E muitos dólares. Nesta semana em que finalmente assisti o filme, ele superou a marca de 1 bilhão de dólares em bilheteria ao redor do mundo.

É compra certa logo que estiver disponível em Blu-Ray. Mas até lá o assistirei no mínimo mais uma vez nesta qualidade, pois foi ele quem ofereceu mais uma passagem para a Terra-Média e suas maravilhas. E uma viagem destas não deve ser desperdiçada. É como se pudéssemos ir a casa de um amigo que não visitávamos desde de 2003. Desde que os navios partiram dos Portos Cinzentos levando Bilbo e Frodo.

Nota 8! É opinião de fã? Talvez, mas o filme não merece menos que isso. Para provar que não sou um fã que dá a nota máxima mesmo que o filme tenha defeitos, comentei sobre eles, pelo menos os que me incomodaram. E digo mais, a comparação com O Senhor dos Anéis é inevitável e indico que O Hobbit é inferior a qualquer um dos três filmes anteriores. Quem sabe se fosse filmado em ordem cronológica a expectativa não fosse tão grande e muita coisa ainda fosse novidade, e com certeza o impacto seria muito maior. Porém, de certa forma, isso serve para mostrar e comprovar que os filmes se passam no mesmo universo e o que seria um demérito, não o é. Ele respeita e preserva o que já foi criado e mostrado. Assista e curta.

Release baixado: The.Hobbit.An.Unexpected.Journey.2012.720p.BluRay.DTS.x264-SPARKS