No final de semana, acompanhado da minha esposa, assistimos
ao filme nacional O Palhaço, com o Selton Mello. Na verdade, naquela tarde tinha duas opções
de filmes para ver, além deste havia Cavalo de Guerra. Mas ela, fã confessa do
ator, e devido a longa duração do outro, me convenceu a vermos este daqui.
Sinopse:
Benjamim (Selton Mello) trabalha no Circo Esperança junto
com seu pai Valdemar (Paulo José). Juntos, eles formam a dupla de palhaços
Pangaré & Puro Sangue e fazem a alegria da plateia. Mas a vida anda sem
graça para Benjamin, que passa por uma crise existencial e assim, volta e meia,
pensa em abandonar Lola (Giselle Mota), a mulher que cospe fogo, os irmãos
Lorotta (Álamo Facó e Hossen Minussi), Dona Zaira (Teuda Bara) e o resto dos
amigos da trupe. Seu pai e amigos lamentam o que está acontecendo com o
companheiro, mas entendem que ele precisa encontrar seu caminho por conta
própria.
Dizem que o circo é uma família, e a de Benjamin está em
crise.
Enquanto todos ao seu redor estão em harmonia em seus laços
- o casal de acrobatas, os irmãos músicos, o ilusionista e sua filha - o
palhaço conversa pouco com seu pai, também palhaço e dono do picadeiro. Existe
algo incomodando Benjamin em O
Palhaço, e não parece ser somente a pressão para comprar um ventilador
novo para a namorada do pai, Lola, a dançarina do circo.
Este mote, move o filme. Mas ele como um todo não se resume
a isso.
Há que se destacar, desde o início, a fantástica fotografia
do filme. Cores quentes que traduzem para a tela o calor da região e da época
em que se passa o filme. Ambientado nos anos 80, tanto a fotografia, quanto a
reconstituição, nos surgem verossímeis e realistas. A ambientação no interior
contribui para um filme feito em um ritmo mais lento e altamente sensível, que
ganha um peso maior ainda após o término da exibição, quando podemos degustar
as sequências vistas na tela.
O destaque notável na fotografia ocorre na transição entre
as cenas no picadeiro e as cenas fora do picadeiro, onde a fotografia nos
transporta da fantasia para a vida real. Algo difícil de colocar em palavras,
mas claramente sentido quando assistimos ao filme. Uma fotografia bela e
fantasiosa, que mostra a dualidade vivida pelo protagonista. Graças ao ator
incrível que ele é, mesmo quando ele atua como o palhaço Pangaré podemos notar
o olhar de desespero que ele mantém em busca de sua felicidade ou de sua
autoafirmação. Detalhe que com outro
ator menos talentoso, acabaríamos perdendo. Assim, conhecemos um palhaço que
faz com que todos riam, mas que não guarda nenhuma felicidade ou alegria para
si próprio.
O elenco de apoio também é muito bom, sem o qual o filme
naufragaria uma vez que o tema proposto não é do tipo que atrai o grande
público. Não é uma comédia pastelão e nem recheada de atores globais postos ali
apenas para atrair público. E esse é um acerto enorme do filme.
As situações que permeiam o filme são plenamente críveis,
com aquilo que imaginamos ter sido (e ainda ser em alguns locais mais remotos)
a rotina do interior do centro do Brasil nos anos 80. A interação da trupe com
os prefeitos das cidades visitadas é a síntese desta ideia que mantemos. Em uma
destas interações, a especulação vai bem além e nos mostra o cotidiano daquela
região mineira da época. Eu não
imaginaria como ser diferente do mostrado tais situações, sem no entanto
revelar spoilers. Nesta época, o circo era a fantasia móvel onde todos se
permitiam viajar junto. Ainda lembro da minha infância, o fascínio que tinha no
circo nesta época. Numa época em que o acesso a cultura era muito limitado, sem
internet, sem canais a cabo e sem a maioria das produções estrangeiras, o circo
era o escape para muita gente poder viajar para um outro mundo. A ingenuidade perdida
pode ser reencontrada no filme.
Talvez o maior defeito do filme seja sua curta duração, pois
mesmo com o filme e suas situações bem resolvidas, ficamos muitas vezes com a
sensação de que determinada sequência poderia ser mais detalhada. Mas talvez tudo
não passe de nosso atestado de qualidade para o filme que acaba nos deixando
com vontade de querer mais.
Se tivesse que avaliá-lo no momento em que o assisti, não
daria uma nota maior do que 7. Porém como o filme provoca esta meditação e nos
faz voltar a lembrar das cenas e repensar as situações, ele acaba se
autopromovendo; de forma, que não tenho como dar a ele uma nota inferior a 8,5.
Assista e experimente esta mesma sensação.
Muitas pessoas ainda tem preconceito com o cinema nacional.
Porém esquecem que já faz vários anos desde que era sinônimo de pornochanchada.
É claro que ainda existem filmes com muita apelação, mas em contrapartida tem
saído muito filme nacional de qualidade comprovada, experimente conferi-los.
Conferi este belo filme em uma cópia DVDRip, visto que
devido a ausência do Megaupload está cada dia mais complicado para baixar
releases em alta definição. Porém a qualidade estava boa, com exceção do som
que era apenas stéreo ao invés do tradicional Dolby Digital ou DTS 5.1 canais.
Mesmo assim, a experiência visual foi muito satisfatória. Imagino em alta
definição o que aguarda.
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