terça-feira, 15 de novembro de 2011

Planeta dos Macacos – A Origem

Assisti neste final de semana, acompanhado por minha filha, a este belo filme. Que me trouxe muitas recordações das versões anteriores e uma saudável confiança no recomeço da franquia.

Fenômeno na virada da década de 1960 para a de 1970, "O Planeta dos Macacos" deu origem a uma franquia milionária que ficou adormecida, incrivelmente, por anos. Tim Burton fez uma excêntrica refilmagem da obra original em 2001 e perdeu a chance de reacender a centelha. Dez anos depois, a situação mudou: assim como nas sequências do primeiro filme estrelado por Charlton Heston, a Fox contratou roteiristas que tentaram encontrar um olhar diferente para a história. Pescando elementos dos filmes anteriores, "O Planeta dos Macacos - A Origem", conta como os símios inteligentes vieram ao mundo, pelo ponto de vista de um deles.

Uma "prequel", ou seja, uma trama que se passa antes da original, parecia mesmo a melhor forma de colocar o vagão de volta nos trilhos. Quando "Planeta dos Macacos" foi lançado em 1968, baseado num livro de Pierre Boulle (também autor de "A Ponte do Rio Kwai"), o contexto era outro, e a trama futurista – o filme se passa 2 mil anos no futuro – serviu para elaborar uma alegoria da época. Guerra fria, tensão nuclear, preconceito e até macarthismo eram abordados de forma nem tão velada. Esse olhar crítico e político, que se estendeu para as sequências, perdeu o bonde da história com o passar do tempo. Por isso, fazia mais sentido agora focar nas diferenças entre as raças e na natureza destrutiva do homem.

"A Origem" se passa nos dias de hoje, quando o cientista Will (James Franco) coordena pesquisas com vírus para aperfeiçoar a neurogênese, em busca da cura do mal de Alzheimer, doença que seu pai (John Lithgow, o melhor do filme, com uma atuação pequena mas incrível) sofre. E como toda história com vírus, essa não acaba bem.

Os testes com macacos pareciam ter sucesso até que um contratempo acaba na morte de Olhos Brilhantes (mesmo nome que Heston recebia no primeiro filme), uma chimpanzé que deixa um bebê para trás. O chefe da companhia interrompe a pesquisa e Will leva clandestinamente o macaquinho para casa. Logo o animal revela inteligência fora do comum – fruto dos experimentos com sua mãe – e a parte interessante começa.

Ele é César (batizado por seu pai em razão da tragédia escrita por Shakespeare), e logo se torna o centro da história. A grande diferença é que, ao contrário das produções anteriores da franquia, pela primeira vez os macacos não são humanos fantasiados. Foi utilizada a mesma técnica de captura de movimentos de "Avatar": usando sensores no rosto e pelo corpo, atores interagiam normalmente com o cenário e outros personagens.
Depois, com efeitos especiais, eram substituídos digitalmente por animais dotados de seus trejeitos e expressões. Foi a primeira experiência da Weta Digital fora dos ambientes controlados de estúdio, com fundo azul, e o resultado é espetacular.

Boa parte do mérito reside nas mãos de Andy Serkis, responsável por interpretar César. A essa altura um verdadeiro especialista na captura de movimentos - depois de viver Gollum em "O Senhor dos Anéis", o gorila de "King Kong" e o Capitão Haddock em "As Aventuras de Tintim" -, o ator britânico transmite ao símio uma riqueza de emoções e sentimentos até então inédita e impossível sem a tecnologia atual. Fiéis à sua natureza, os macacos tornam-se ao mesmo tempo seres complexos e, por isso, dignos de serem acompanhados de perto. Tornam-se, finalmente, as estrelas da série.

À medida que a trama evolui, César, já adulto, desenvolve consciência da maldade humana e do poder que tem nas mãos, em comparação a outros macacos. Incorpora uma postura de liderança e parte para uma revolução dos bichos, que dialoga diretamente com o quarto filme da franquia, "Batalha pelo Planeta dos Macacos" (73) – cujo herói, não por acaso, também se chama César. A sanguinolência desse filme, no entanto, dá lugar a um dilema moral muito mais rico e põe na balança quem, afinal, são as criaturas primitivas, os macacos ou o homem? A resposta reside num futuro apocalíptico.

O protagonismo dos macacos é tão evidente que os roteiristas Rick Jaffa e Amanda Silver (do longínquo "A Mão que Balança o Berço", de 1992) não se preocuparam em desenvolver os humanos. Apesar de ser figura-chave dos acontecimentos, o cientista de James Franco não aparenta muito mais do que irresponsabilidade e obsessão, perambulando pelas cenas. Sua namorada (Freida Pinto) tem pequena participação e os outros personagens seguem basicamente por estereótipos, de gênero (como o chefe da companhia, cego pela possibilidade de lucro) ou até do próprio ator – caso de Tom Felton, tão malvado quanto seu Draco Malfoy da saga "Harry Potter". Incomoda? Nem tanto, até porque, no fim das contas, são todos coadjuvantes.

O desconhecido diretor Rupert Wyatt  ", recheou "O Planeta dos Macacos - A Origem" de referências aos filmes anteriores, piscadelas aos fãs. Vão desde pequenas homenagens a referências claras, como a aparição num noticiário da nave de Charlton Heston no longa original. Suficiente para provar que o passado da série não será ignorado nos próximos capítulos.

E eles virão, isso é uma certeza. "A Origem" foi produzido e lançado de mansinho, sem estardalhaço, e conquistou de cara as plateias norte-americanas. Ficou por duas semanas no topo das bilheterias e e arrecadou cerca de quatro vezes mais do que seu custo de produção.

O filme pavimenta o caminho para o reinício da franquia – a arte dos créditos finais, inclusive, é usada como um raro recurso narrativo para falar como o planeta se tornou a terra arrasada encontrada pelo astronauta Heston. Difícil dizer se vai retomar a mania dos anos 1970. Mas é, com toda a certeza, entretenimento de primeira.

Uma nota 8 com louvores.

Release baixado: Rise.of.the.Planet.of.the.Apes.2011.BluRay.720p.DTS.x264-Dual-CHD

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